Clarice muitas vezes escapa do nosso entendimento. E essa é a graça. Dança em torno das questões metafísicas mais complexas da existência humana e nos atenta para representatividades sensíveis. No conto "O Ovo e a Galinha", a ausência de certeza consolida o mistério sobre a dimensão do espaço improvável que o ovo abriga e sua simbologia cabe na imensidão de seus limites frágeis. Ele carrega dentro de si o caminho que ele mesmo percorre, e nos alude sobre sermos as nossas escolhas. Sobre escolhermos ser.
O ovo transfigura-se, ganha acesso e transforma-se em objeto de acolhimento. O ouro e a prata substituem a casca frágil e garantem a permanência do que se escolheu guardar ali. Sua forma simples se transforma no nosso objeto de acolhimento: uma casa para abrigar afetos.
